26 de junho de 2008

MODA E ECO DESIGN: Uma parceria na construção do Futuro

Janete Guilherme de Souza
Curso de Estilismo e Moda
Universidade Federal do Ceará
E-mail: janetyguilherme@gmail.com


RESUMO

Este artigo tem como objetivo citar e explanar algumas dos fatores que contribuem favoravelmente por esta parceria, Moda e Eco design, que podem contribuir para a análise da construção de políticas de conscientização da moda, em relação à questão ambiental. Tais fatores contribuem para o reconhecimento de que os problemas ambientais são definidos através dos processos sociais, políticos e culturais por meio da análise da ação dos diversos processos envolvidos na construção de um produto. O foco principal se faz na busca do valor que o design pode agregar a um produto com conceito ecológico, e os fatores e ações que têm contribuído para conscientização da sociedade de consumo.


INTRODUÇÂO

Desde o inicio, a parceria moda e meio ambiente não tem contribuído com muitas vantagens no que diz respeito ao meio ambiente, mesmo nos primórdios da civilização onde não existia se quer o conceito de moda, o homem já se utilizava dos recursos da natureza para vestimenta e adornos. Nada é claro, comparado com a desvantagem que se tornaria a parceria da Moda e meio ambiente, onde o exotismo de animais, a diversidade de minerais e a criação de produtos químicos para tinturaria, lavanderia e acabamento de tecidos, se tornariam tão agressivos para o meio ambiente. A efemeridade da moda, onde os bens em geral são bens não duráveis, também contribuem para a degradação.


No Brasil, a grande maioria das empresas não desenvolve um programa de proteção ambiental, nem de controle de gases tóxicos nos processos de beneficiamento de produtos ou mesmo de consciência ecológica e sustentável de determinada produção. Mas, fatores como a aplicação do eco design ao produto de moda processos envolvendo o consumidor, empresas e ações de conscientização em meio à moda, está cada vez mais na moda.
Diante disso, a necessidade de se cada vez mais agregar valor aos produtos de moda, aliando aos valores que possam vir a ser reconhecidos por consumidores em longo prazo. Por isso é fundamental atentar a sensibilidade do consumidor, com a preocupação já na compra, de um produto de origem ecologicamente correta. Produto este que pode se tornar mais competitivo e valoroso através do posicionamento estratégico no mercado. Para que cada consumidor de moda em potencial faça escolhas compatíveis com as necessidades ambientais e sustentáveis.


1. O DESIGN NA ECOLOGIA

O desafio do século XXI é evitar ou minimizar os impactos adversos de todos os produtos no meio ambiente. Como todos os desafios, este constitui tanto uma demanda quanto uma oportunidade.
Entende-se por eco design: todo processo que contempla os aspectos ambientais em todos os estágios de desenvolvimento de um produto, colaborando para reduzir o impacto ambiental durante seu ciclo de vida. Isto significa reduzir a geração de lixo e economizar custos de disposição final. A definição de ecodesign proposta por (Fiksel, Joseph – Design for environment: Creating eco-eficiência products and processes- 1996) diz que o projeto para o meio ambiente é a consideração sistemática do desempenho do projeto, com respeito aos objetivos ambientais, de saúde e segurança, ao longo de todo o ciclo de vida de um produto ou processo, tornando-os eco eficiente, o que leva à produtividade e lucratividade.
O design adquire papel importante neste conceito de moda e ecologia, o de agregar valor a produtos e transforma-los em produtos com simbologia, pois a qualidade e o alto valor intrínsecos, já não são os únicos elementos a sustentar seu consumo.




“Conceber um produto integrando o meio ambiente”. O eco design, cuja primeira definição foi dada por Victor Papanek, participa de um processo que tem por conseqüência tornar a economia mais “leve”.
Igualmente chamada “ecoconcepção”, trata-se de uma abordagem que consiste em reduzir os impactos de um produto, ao mesmo tempo em que conserva sua qualidade de uso (funcionalidade, desempenho), para melhorar a qualidade de vida dos usuários de hoje e de amanhã”.
(Thierry Kazazian, 2005)

2. O CONSUMIDOR

É visível a existência de um valor simbólico, que orienta o consumidor na escolha de um produto de moda. O estilo de vida, as simbologias regionais e de consciência ecológica entram como uma oportunidade de demanda no mercado da moda. Empresas que se preocupam com o ecossistema e transmitem isso na idealização, pesquisa e construção de seus produtos, acreditam no seu sucesso com consumidores que também apóiam está causa. Depois de muito se falar sobre os estragos sofridos pelo meio ambiente, o consumidor toma consciência do seu papel perante as atitudes para “salvar o planeta”.
Este novo conceito procura abordar os diversos aspectos que influenciam o consumidor e o mercado da moda brasileira, neste momento importante que é o de conduzir o crescimento de forma menos impactante para o planeta.

3. AS EMPRESAS

Diversas empresas de moda promovem desfiles e coleções baseadas nos conceitos de eco design, onde o objetivo é fazer uma moda que respeite o meio ambiente, e palavras como: repensar, reciclar e renovar se tornem parte de todo um conceito abraçado pela marca e seu público. Algumas destas empresas nacionais que aderiram à “eco moda” como: Osklen, Poco Pano, Vide Bula, Melissa e Hering, são exemplos de que a iniciativa de levantar a bandeira do meio ambiente produz um efeito de conscientização do consumidor ou no mínimo de apoio.
A moda sustentável apropria-se tanto de materiais reciclados quanto de materiais que não causam danos ao meio ambiente, como tecidos orgânicos e tintas naturais. Algumas marcas utilizam como matéria prima retalhos de tecidos de grandes indústrias têxteis ou até mesmo roupas velhas, matéria prima que muitas vezes, assume um papel de artigo de luxo, atravéz do design e de todos os valores nele agregado.

4. AÇÕES EM BUSCA DA CONCIENTIZAÇÃO

Uma iniciativa bastante interessante foi realizada pelo São Paulo Fashion Week, que a várias edições vem levantando a bandeira de conscientização e busca por sustentabilidade em meio a moda. Por se tratar do maior evento de moda do Brasil, incentiva a inúmeras outras ações por parte de empresas, estilistas, jornalistas, estudantes e consumidores de moda. O tema da semana de moda foi “ Motainai”, palavra que em japones, se refere ao “respeito”, ou seja o “não desperdicio”. A ideia do evento é respeitar o outro, o seu meio ambiente, e se respeitar. Com isso, valorizar coisas que temos a nossa volta.
Outro evento interessante foi a campanha “Eu não sou de plástico”, que teve como responsável a jornalista de moda Lilian Pacche, onde o objetivo era incentivar as pessoas a não utilizarem sacolas plásticas. Para isso, mais de cem estilistas participaram do evento e desenharam bolsas exclusivas, juntamente com ONGS e outras entidades relacionadas. Nessas circunstâncias várias são as empresas que reestruturam toda sua equipe, procedimentos, matéria prima na busca do cnceito de moda sustentavél.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desafio que temos pela frente é cada vez mais promover seja através de consumidor, empresas ou ações a conscientização de que a moda pode e deve ser aliada no comprisso de todos a preservação do planeta. Ao assumir este compromisso e considerarmos o fato de que os fatores apresentados aqui e o crescente número de intervenções por meio da sociedade de consumo, deve ser construída sobre bases ambientais sólidas, ou seja a partir de uma ampla visão do problema, que analise não apenas a questão ambiental, mas toda a dinâmica que está associada a tal questão, como os aspectos culturais e de oportunidade.



6. BIBLIOGRAFIA

GIDDENS, A. (1991). As conseqüências da modernidade. São Paulo: Editora UNESP. 177p.
BAURILLARD, Jean. A sociedade e consumo. Rio de Janeiro: Edições 70, 1991.

Hollywood e a moda do século XX

Cássia de Souza
Estudante de Estilismo e Moda
Universidade Federal do Ceará
E-mail: cassiastarwars@hotmail.com


RESUMO:
O artigo trata da influência do cinema hollywoodiano na difusão da moda do século XX. Identifica que essa influência só foi possível, a partir do momento que o cinema consolidou-se como uma indústria, produzindo filmes em ritmo constante. Explica que essa influência deu-se, de maneira contundente e definitiva, graças ao star-system, um sistema onde “astros” e “estrelas” eram mitificados, e suas imagens eram usadas para fascinar o público.

Palavras-chave: Cinema, Hollywood, divas, moda.

O cinema de Hollywood e a moda

O cinema, no século XX, se caracterizou como uma vitrina para o consumo de moda. Os astros e estrelas, principalmente os de Hollywood, ditavam a moda em boa parte do mundo. Hollywood glamourizou a moda vigente da época, e com isso, ajudou a fortalecer a indústria da moda, que cumprindo cada vez mais rápido com as exigências do mercado, mudava rapidamente o estilo de cada época, o que muitas vezes prejudicava a indústria cinematográfica hollywoodiana, pois esta acabava lançando seus filmes já com figurinos ultrapassados.

O início da parceria entre moda e cinema, uma das relações mais duradouras e glamourosas da modernidade, se deu com a vinda de vários profissionais do ramo da moda para Hollywood em busca de emprego, já que a indústria cinematográfica crescia continuamente e requeria mão de obra qualificada, principalmente no que diz respeito aos figurinos, responsáveis, em grande parte, pelo glamour das divas hollywoodianas.
(...) a importância dada ao vestuário em Hollywood, quase que desde o começo, estava muito além do que o veículo requeria. Talvez não tenha sido uma coincidência a maioria dos primeiros magnatas do cinema terem iniciado sua vida no ramo da moda. Harry Warner era sapateiro, Samuel Goldwin, luveiro, e Adolph Zukor, peleteiro, antes de irem para Hollywood, e os três levaram amigos e colegas do ramo para a indústria cinematográfica.” (LURIE, 1997, p.156)


Foi na década de 1910 que o cinema se impôs e se expandiu, difundindo um novo jeito de ser e vestir, atingindo, principalmente, mulheres de todos os tipos, idades e meios. Segundo Faux (2000, p.11) “a estrela de cinema, bela e bajulada, eclipsou a mulher elegante. (...) E a imagem emblemática dessas estrelas penetrou na sociedade tão profundamente que não cessou de reaparecer ao longo de todo o século”.

Ao longo da década de 1920, as estrelas do cinema eram exaltadas em revistas de moda, recebendo, às vezes, mais atenção do que os estilistas que assinavam suas roupas. Com isso, o cinema se tornou um poderoso lançador de estilo.

Com a chegada do som, em 1927, o cinema ganhou um maior realismo e atrizes como Joan Crawford, Louise Brooks e Gloria Swanson, com corte de cabelo curto e arredondado, olhos fortemente delineados e batom escuro, inauguraram o estilo “melindrosa”, servindo de inspiração para toda uma geração de mulheres, que copiavam suas roupas, penteados, cosméticos e até mesmo seus trejeitos. Na moda, as maiores representantes do estilo “garçonne” foram Chanel e Patou.

A influência do cinema na moda da época foi tão forte, que instigou a criação de revistas especializadas na moda dos astros e estrelas do cinema. Essas revistas eram muito consumidas pelas mulheres, que buscavam incansavelmente, a adequação aos padrões de beleza hollywoodianos. Contudo, essas publicações também eram procuradas pelo público masculino, como atesta Mendes:

As revistas para fãs, surgidas pela primeira vez em 1911, revelavam as rotinas de beleza e os guarda-roupas dos astros. Atores como Rudolph Valentino e Douglas Fairbanks ofereciam novos padrões de estilo para os homens.” (2003, p. 54.)


A partir de então, o cinema passou a desempenhar a função de meio de comunicação em massa e grande influenciador das tendências da moda e beleza. Neste período, os cabelos eram mantidos brilhantes com o uso de brilhantina, cabelos longos eram penteados para cima, os chapéus “cloche” enfeitavam as cabeças de vaidosas damas, as sobrancelhas eram depiladas até se tornarem arcos finos e na boca eram aplicados batons escuros.

O star-system e o poder das divas
Nos anos de 1930, chamados apropriadamente de “os anos dourados de Hollywood”, o cinema demonstrou todo o seu poder, com o star- system, sistema responsável pela criação das “divas”, que foram as grandes responsáveis pela difusão da moda do período. Nesse contexto, as novas palavras de ordem transmitidas pelo cinema foram estilo e glamour.
Divas eram seres intocáveis. A maioria era fisicamente alterada, construída e produzida para alcançar a perfeição. Greta Garbo foi sinônimo de elegância e mistério, e como ela, também eram deslumbrantes Jean Harlow, Joan Crawford, Bette Davis, Marlene Dietrich, Ginger Rogers e Katharine Hepburn. O drama foi que tamanha perfeição mexeu com a mente de todas as mulheres, que passaram a desejar um padrão de beleza inalcançável.
Em 1931, com o cinema sonoro, o público conheceu a voz rouca, baixa e sensual de Greta Garbo, o que lhe conferiu ainda mais sofisticação. Garbo chegou à Hollywood pelas mãos de um produtor para se tornar a primeira diva dos anos 30. Para Faux, Garbo possuía um estilo único: nobre e elegante.
Dona de um estilo nobre e uma elegância natural, Garbo, ao contrário de suas companheiras, ignorava esmalte e batom, maquiando ela própria suas pálpebras com maestria. Bastava que aparecesse na tela com um pequeno chapéu tombado sobre o olho para que em seguida todas as mulheres fizessem o mesmo.” (2000, p.122 )

Outra atriz oriunda do norte da Europa foi Marlene Dietrich, que tornou-se, graças ao seu companheiro Joseph Von Stenberg, o arquétipo da mulher fatal: testa aparada com pinça, cabelos claros, cílios curvados, dentes do siso retirados para aprofundar as bochechas, regime de emagrecimento, langor preguiçoso e voz profunda. Sua aparição em O Anjo Azul, de 1930, foi marcante e acabou lançando a moda dos tubinhos (FAUX: 2000, p.124).
Em alguns momentos, Hollywood conseguiu se antecipar aos costureiros. Travis Banton, que trabalhou na Paramount foi o estilista responsável pela elegância sóbria e misteriosa de Marlene Dietrich. O mesmo surpreendeu a todos ao vestir Marlene, elegantemente, com conjuntos de casacos - com ombros largos e ombreiras - e calças, num misto de masculino e feminino, num período de reinado absoluto dos grandes vestidos.
Os figurinos das divas causavam grande impacto na moda e, apesar dos próprios figurinistas reforçarem a idéia de que nem todo vestido serviria para a vida fora da tela, o mercado sucumbia à moda do cinema de forma desenfreada.
Mendes (2003, p.81-82) explica como a indústria cinematográfica de Hollywood influenciava a indústria da moda:
Além das indústrias de moda de Nova York, os Estados Unidos tinham a vantagem única de Hollywood cujos filmes exercem forte influência na moda da década. O vestuário era central no sucesso de um filme e vastas somas eram gastas nos guarda-roupas das atrizes (embora, muitas vezes, os atores tivessem de fornecer suas próprias roupas). Os produtores e estilistas aproveitavam a oportunidade para produzir modas usáveis e lucrativas, inspiradas nos filmes.


Os estúdios de Hollywood seguiram e adaptaram as modas de Paris por um bom tempo. No entanto, quando as bainhas das saias desceram dramaticamente, em 1929, milhares de rolos de filmes tornaram-se instantaneamente antigos e obsoletos, o que fez com que os magnatas hollywoodianos mudassem de estratégia. Com o objetivo de impedir que o fato se repetisse novamente, dezenas de estilistas foram enviadas à Paris para repassar aos estúdios todos os lançamentos da moda.

A partir do início da década de 1930, os estúdios começaram a contratar e promover o talento de seus próprios estilistas, entre eles Adrian, na MGM, Travis Banton, Walter Plunkett e Edith Head, na Paramount, e Orry-Kelly, na Warner Brothers. Estes estilistas não criaram apenas figurinos que se adaptavam aos enredos e expressavam a personalidade dos personagens, mas lançaram novas tendências e reforçaram modas existentes. Baudot (2000, p. 104) explica o sucesso desses estilistas:

(...) Sem procurar seguir rigorosamente a última moda de Paris, os desenhistas do cinema americano moldam um estilo original, sedutor e fotogênico. Usando materiais ostensivamente luxuosos (lantejoulas, peles, musselines etc.), raramente tecidos com desenhos, seus cortes são de grande simplicidade e sabem valorizar a anatomia das estrelas: decotes profundos ou cavados de modo a deixar à mostra o colo, transparências, plumas de avestruz ou de cisne, cigarreiras etc.


As roupas de esporte e lazer também foram influenciadas pelo cinema americano. No filme “A Princesa das Selvas” (The Jungle Princess), de 1936, Dorothy Lamour apareceu com sarongues, criados por Edith Head. Isto foi o bastante para que o modelo fosse copiado nas coleções americanas nos quinze anos seguintes.

Revistas internacionais contribuíam para a difusão do estilo hollywoodiano e muitas dessas revistas divulgavam, oportunamente, sua própria série de modas cinematográficas prontas para uso, além de moldes de papel para a fabricação da roupa no domicílio. Muitas empresas foram constituídas para produzir modas inspiradas por Hollywood, entre as muitas estão “Miss Hollywood” e “Studio Styles”. Mendes (2003, p. 86) explica como funcionavam estas empresas:

Os produtos eram vendidos no varejo em departamentos de Moda Cinematográfica, em lojas de toda a América do Norte e Europa. As modas dos filmes também eram disponibilizadas por meio de catálogos de encomenda postal. Durante toda a década de 1930, a companhia americana Sears, Roebuck enviou cerca de sete mil catálogos bienalmente, com estilos cinematográficos e modas endossadas por estrelas.


Os trajes dos filmes, apesar de toda a influência do cinema, não podiam ser copiados pelas mulheres de baixo poder aquisitivo, que não possuíam condições de comprar qualquer tipo de roupa nova. O alento para estas mulheres vinha com a maquiagem e o penteado, possíveis de serem copiados, o que as aproximava do estilo de suas estrelas favoritas. O penteado curto de Garbo foi largamente copiado e, quando Jean Harlow, primeira estrela a tingir os cabelos de platinum blonde, surgiu loiríssima no filme de 1930, Anjos do Inferno (Hell´s Angels), aumentou as vendas de peróxido. Tal fato associou, definitivamente, a imagem das “loiríssimas” ao fascínio hollywoodiano, tendência esta que continua sendo copiada até hoje.

Vestir-se bem também era importante para os homens da década de 1930 e, embora o destaque de Hollywood fosse dado aos trajes femininos, a indústria do cinema trabalhou muito para reforçar e moldar as atitudes em relação ao vestuário dos homens. Muitos procuravam seguir o estilo de grandes astros como Ronald Colman, Cary Grant e Gary Cooper. O estilo britânico e, em particular, alfaiataria de Saville Row, eram sofisticamente divulgados, enquanto o estilo informal americano era usado para imprimir um conceito mais agressivo.

Nas décadas de 1940 e 1950, o público freqüentador de cinema era imenso. Dois estilos de beleza feminina marcaram os anos de 1950: o visual comum de Doris Day e o das ingênuas chiques, encarnado pelas elegantes Grace Kelly e Audrey Hepburn, que se caracterizavam pela naturalidade e jovialidade; e o estilo sensual e fatal das deusas glamourosas e mais curvilíneas como Jane Russel, Marilyn Monroe, Gina Lollobrigida, Elizabeth Taylor, e Ava Gardner. A elegância de Grace Kelly, com suas saias amplas, cintura marcada, twin-set, colar de pérolas, e clássica bolsa Hermés, enfeitiçou os criadores e aficionados da moda. Rita Hayworth, já ilustre durante a guerra, foi apelidada como “A deusa do amor do século XX”, e em Gilda, de 1946, imortalizou o fourreau de cetim cromado preto, criado por Jean Louis. Rita lançou a moda dos cabelos compridos e selvagemente cacheados.
Em meados da década de 1950, surgiu na Grã-Bretanha, uma sub-cultura influenciada pelo filme O Selvagem (The Wild One), protagonizado por Marlon Brando em 1954. Conhecidos como Ton-Up boys, seus integrantes começaram a formar clubes de motoqueiros, e lançaram as modas do casaco de couro, do jeans, das motos e da rebeldia, elementos fundamentais do visual durão ditado pelo personagem de Brando. Contudo, James Dean foi quem incorporou, definitivamente, o estilo rebelde. O célebre ator atuou em Juventude Transviada, de 1955, Vidas Amargas, de 1955, e Assim Caminha a Humanidade, de 1956, este último inacabado por ele, que faleceu durante as filmagens.
Com o final da Segunda Guerra, a mulher dos anos 50 voltou a ser feminina, luxuosa e sofisticada: sapatos de saltos altos, luvas além de peles e jóias. A década de 1950 foi uma época de elegância.

Elegante era a palavra de ordem e era vital a escolha dos acessórios corretos para cada conjunto. As revistas de moda geralmente recomendavam que sapatos, bolsas, chapéus e luvas deviam combinar. (MENDES, 2003, p.157)

Neste período se deu uma das mais famosas parcerias entre o cinema e a moda: Givenchy e Audrey Hepburn. O estilista cuidadosamente estudou e evitou gestos populistas, e aperfeiçoou um estilo clássico e refinado. Audrey Hepburn após conhecê-lo, em 1953, ficou deslumbrada por seu trabalho e, tornou-se a sua cliente mais fiel. A atriz utilizava as criações do estilista tanto nos filmes como no cotidiano, fora dos estúdios. Givenchy criou dezesseis modelos para as suas aparições cinematográficas entre 1953 e 1979. Mas o mais famoso foi, certamente, o vestido preto de Bonequinha de Luxo (Breakfast Tiffany´s), de 1961.

O fim dos “anos dourados de Hollywood”

Os anos de 1970 representaram a última grande era do cinema americano. A moda passou a ser idealizada de fora para dentro, do povo para os fabricantes, da rua para os salões. O termo elegância foi substituído por punk, retrô. Estilistas renomados são convidados para criarem os figurinos de filmes.

Em 1974, Ralph Lauren criou todo o guarda-roupa masculino de O Grande Gatsby, protagonizado por Robert Redford. Em 1977, o estilista criou o figurino que a atriz Diane Keaton usou suas roupas em Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, de Woody Allen, popularizando seu estilo de vestuário masculino para mulheres: blusas largas, calças, gravatas e casaco.

A década de 1980 teve seu estilo inspirado em filmes noir dos anos 40. Mickey Rouke, em 9 e 1/2 Semanas de Amor,de 1986, e figurino de Bobbie Read, deflagrou uma onda minimalista na moda: camisa branca e terno escuro. Em Wall Street – Poder e Cobiça, de 1987, o figurino de Ellen Mirojnick, representa a sofisticação artificial dos yuppies, inspirada diretamente nos executivos de Nova York, simbolizando status e poder. Camisas listradas de punho e gola em cor contrastante - batizadas de “gekko", nome do personagem interpretado por Michael Douglas -, ostentosas abotoaduras, suspensórios e prendedores de gravatas invadiram escritórios, bancos e corretoras.da época.

No final do século XX, o figurino de cinema revisitou estilos e criou outros, e assim, continuou divulgando modismos, mesmo que sem a força dos “anos dourados de Hollywwod”. Um exemplo disso foi os óculos do personagem Neo, de Matrix (1999), que foram um grande sucesso de vendas no período.

Conclusão

Diante do fascínio exercido por Hollywood no século passado, não é difícil admitir que desde a sua invenção, o cinema influenciou e foi influenciado pela moda. Os Figurinos de astros e estrelas de filmes de Hollywood passaram a ser copiados e adaptados para a realidade do público, fazendo com que o cinema também se tornasse um criador de tendências e contribuísse para o aumento no consumo de produtos de moda, contribuindo para o estabelecimento dessa indústria.

Referências Bibliográficas

BAUDOT, François. Moda do século. São Paulo: Cosac e Naify Edições, 2000
FAUX, Dorothy S. A beleza do século. São Paulo: Cosac & Naify, 2000
LURIE, Alison. A linguagem das roupas. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.
MENDES, Valerie D. A moda do século XX. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

Dragão da Arte, Dragão da moda

Debora Silva
Graduanda em Estilismo e Moda
Universidade Federal do Ceará
silvadeby@hotmail.com


O evento Dragão Fashion, desde sua idealização, tende a ampliar o senso comum voltando-se sempre aos criadores de moda locais, seja com o lançamento de novos nomes no mercado, como em homenagens passarela à dentro. Desta vez não foi diferente, no ambiente do evento, foi montado um hall de artistas, do lado de fora das salas, e dentro, propuseram shows de grandes nomes da moda nacional, internacional e por que não, aqui mesmo do Ceará? Em sua nona edição, o Dragão Fashion Brasil 2008 apresentou a discussão: moda-arte ou arte-moda? Em rodadas de palestras, conversas suspensas e desfiles monumentais, o objetivo era lançar um novo olhar para o que estamos produzindo em relação à moda, em relação ao novo. Estamos produzindo uma arte, uma moda, ou um consumo artístico por meio de roupas? Um alinhavado de pensamentos vindos de Norte a Sul, pesquisadores, estilistas, curiosos e principalmente estudantes de moda, puderam comparecer ao projeto Dragão Pensando em Moda, e opinar em relação ao debate desta edição: Dragão de todas as artes.Um circuito de palestras possibilitou um aprendizado, que nos fez refletir a realidade da moda em nosso país/estado. Levantando questionamentos e principalmente, nos abrindo os olhos para o que criamos, para o que vamos criar no futuro. O consumo, a rotatividade de tendências, o artesanato, e inúmeros conceitos foram colocados a prova num paralelo cultural e econômico. Assunto vai e assunto vem, a moda foi o centro das atenções, cercada por artistas de todos os âmbitos, sem se dar conta, os idealizadores propuseram aos espectadores a maior arte de todas, a arte de pensar.

25 de junho de 2008

Dragão do artesão

Danielle C. Estácio de Sousa
Graduanda em Estilismo e Moda
Universidade Federal do Ceará
danielleestacio@hotmail.com


Como todos os anos se reinventa, inova, agrega, este ano o DFB traz muitas novidades. A primeira é que o evento congrega, com charme e vanguardismo, todas as artes. Como dizia Jean Paul Gaultier:"La mode est l'art du changement"(A moda é a arte da mudança), e como carro chefe das mudanças da sociedade, a moda traz consigo as Artes Plásticas e Visuais, Cinema e claro, o Artesanato. Este último, sempre ocupou espaço relevante no evento, trazendo para a sociedade a importância do artesanato local e solidário. A relação entre essas duas expressões artísticas, artesanato e moda, existe há séculos. Desde a Antiguidade, passando pela Idade Média, e estacionou um pouco na segunda metade do século passado, com o pós-guerra. Depois de um boom de industrializados e produção em massa e como reflexo da sociedade atual, o individualismo é a característica que "rege" o homem do século XXI. E a atenção pelo manual, pelo artesanal, pelo único ganha de novo a cena. Essa retomada do gosto pessoal e a valorização do trabalho personalizado, oriundo de pessoas humildes em sua maioria, traz uma nova perspectiva de vida e "massageia" o ego dessas pessoas. Falando em ego, é aí onde os empresários de moda e os estilistas entram em cena, ganhando com a mão -de-obra irrisória e enaltecendo o trabalho desses pequenos produtores, com a fachada de artesanato solidário. E infelizmente na grande maioria dos casos, o sistema de moda tem como base a redução máxima de custos, principalmente no que concerne a mão-de-obra. Ou se produz na China ou Indonésia, ou investe-se aqui mesmo, com o salário um pouco mais significativo e, em contrapartida, benefícios e isenções de impostos, e lógico, com o mérito de ''cidadão honorário".

DRAGÃO DE TODAS AS ARTES - Coreografias do Belo


As Artes visuais, como aliada na transformação do produto de moda em objeto de desejo, com destaque para produção de moda.

Janete Guilherme de Souza
Curso de Estilismo e Moda
Universidade Federal do Ceará
e-mail: janetyguilherme@gmail.com


Há alguns anos a moda deixou de ser imposição de formas e valores, foi-se o tempo em que estar na moda significa seguir regras ditadas pelas tendências de cada estação. A moda mudou seu foco, passou a valorizar o comportamento, atitude e a maneira de comunicar-se de seu consumidor. A pesquisa intensa e o respeito das características pessoais e dos grupos formam uma nova maneira de encontrar o individuo e o que ele procura. E afinal, como nós consumidores sabemos o que é feito para nós? O que nos motiva a comprar determinado produto?
Vários podem ser os motivos, mas, o desejo e a identificação do consumidor com o produto se tornam o primeiro impulso de compra. Para isso, inúmeras são as fontes de informação ao consumidor, revistas de moda, internet, desfiles, cinema, novelas na TV e a publicidade em geral. Um universo de coreografias que estimulam as necessidades de compra, sempre na busca do belo e do bem estar provocados por ele.

E a produção de moda?

Nesse contexto a produção de moda exerce papel fundamental nesta simetria de movimentos e imagens, fornecendo pistas e influenciando as tendências de moda e beleza.

“A estética é mais nobre do que a ética. Ela pertence a uma esfera mais espiritual. Distinguir a beleza de um objeto é o fim mais elevado que podemos chegar. No desenvolvimento do indivíduo, mesmo a noção de cor é mais importante do que a noção de certo e errado”. (Oscar Wilde)


Tudo começa com o olhar, e neste olhar a fotografia tem papel fundamental de venda daquele momento ou desejo que possa vir a ser do consumidor. No processo de produção de moda, vemos surgir à construção de uma nova identidade de um novo sujeito que se desfaz da sua pessoa e assume um novo papel, um novo eu que juntamente com o cenário, peças de roupas e tudo mais para a construção do belo, trazem um significado de consumo.
Desde a inclusão da fotografia como elemento de mídia para a moda, há uma valorização do corpo, interpretado como imagem e ao mesmo tempo como veiculo de comunicação. Par isso atributos físicos e expressões faciais são importantes para escolha da modelo que ira interpretar o comportamento feminino criado para aquela consumidora especifica.
Ou seja, é neste cenário de coreografias, “modelos-atores”, peças que provocam desejo de consumo, e indivíduos que não mais se satisfazem em consumir o produto e sim todo o conceito por traz dele, que se perpetua o processo de mídia em torno da moda.

Bibliografia

BAURILLARD, Jean. A sociedade e consumo. Rio de Janeiro: Edições 70, 1991.
PRECIOSA, Rosane. Produção Estética: notas sobre roupas, sujeitos e modos de vida. / São Paulo: editora Anhembi Morumbi, 2005.

Um passo adiante

Autora: Rachel Cordeiro
Estudante de Moda
Universidade Federal do Ceará
rachel.a.cordeiro@gmail.com

Conceito e arte em prol de um bom produto: esta foi a proposta da IX edição do Dragão Fashion Brasil. Unir em um único espaço várias artes que estimulam a mente e a percepção e assim transformar o que era antes uma exibição de moda em uma experência mágica e cultural.
Desde a primeira edição, o Dragão Fashion tem buscado valorizar a moda, a cultura e o artesanato local.
A criatividade e o poder de adaptação das mentes novas sempre foi desafiado, ano após ano, em um concurso de novos talentos com temas que estimulam o uso do artesanato.
Porém, o Ceará é uma grande capital do Brasil, o terceiro maior pólo têxtil do país e o que parece é que o artesanato usado solo ou aplicado em roupas é a única coisa boa que temos para oferecer quando se trata de moda-conceito.
Claro que o artesanato deve ser posto no lugar que merece: é a cultura do Ceará, é um trabalho demorado e detalhado, ajuda famílias e gira o capital da cidade e do Estado, mas não é só isso que temos a oferecer para o mundo como nos é feito acreditar. Existem mentes criativas que conseguem desenvolver moda-poesia, luxo, agressividade metropolitana, baseada em barulho e poluição, em movimentos frenéticos de carros e pessoas; porém ainda não há espaço para essa mente desabrochar. Na maioria das vezes, persiste a idéia que o sertão é o único caminho para criação e o que vem do “asfalto” não é arte.
O Ceará deve estimular a opinião metropolitana também. O artesanato está no sangue, não dá para negar, porém a identidade não é formada apenas por isso. Criadores que desejam fazer uma breve referência ao artesanato mas com uma mensagem diferente também deveriam ser estimulados à mostrar o trabalho para um público.
O desfile da dupla catarinense Marcussoon mostrou maxi-fuxicos como bolsos, aplicações em feltro e arranjos artesanais para cabeça com apelo urbano dentro das tendências de moda para o inverno, sendo, de longe, um dos melhores a passar nas passarelas do centro de convenções, justamente por ter artesanato revisitado.

9 de junho de 2008

Diferenças e Breves Relatos entre Coolhunter e Pesquisador de Moda

Rachel Cordeiro
Estilismo e Moda
Universidade Federal do Ceará
Pesquisadora de moda para empresa têxtil
rachel.a.cordeiro@gmail.com

Resumo
Este artigo tem como objetivo identificar e separar duas maneiras de atuação dentro da cadeia produtiva de moda. Há um processo crescente de surgimento e reconhecimento das várias profissões de moda, tornando necessário o seu diferenciamento. Apesar de haver confusão entre as áreas aqui examinadas, até mesmo por profissionais atuantes no mercado, elas dialogam entre si mas,são distintas, podendo não haver conexão se assim for desejado. O pesquisador de moda atua diretamente em pesquisas do que já foi feito enquanto que o coolhunter caça o que está na iminência de ser fabricado, o que ainda está no ar.

Palavras – chave: coolhunting, pesquisa de moda, moda rápida, indústria têxtil.

Abstract
Due to the value attributed to fashion professions, this article was made to identify and separate two areas of the fashion industry. Because they are alike, even the professionals tend to combine or confuse them, but those professions can be separated and no longer be similar. The fashion researcher goes for the fashion shows, for the things that are already made, the cool hunter attacks what’s about to be wanted, what’s still on the surface of wanting.


1. Introdução
Com novas práticas de fabricação rápida de moda se tornando cada vez mais um negócio almejado e lucrativo, a importância de novos profissionais está ficando cada vez mais evidente. Porém a falta de consciência dos papéis que devem ser exercidos, muitas vezes, por existência de uma confusão de nomenclatura, pode denegrir a imagem e a credibilidade dos profissionais.
Este artigo tem como objetivo estabelecer as características do que é um coolhunter e o que é um pesquisador de moda, para contribuir com a indústria têxtil nacional, na definição dos lugares e funções desses profissionais.
O termo coolhunter já é largamente usado no Brasil, mas tem sua origem nos Estados Unidos, onde a maioria das pesquisas de moda são realizadas considerando-se a separação de estilos, idades e gostos que influenciam tanto na caça ao legal.
O pesquisador de moda é um grande personagem da indústria têxtil atual, ele é o tradutor das passarelas mais famosas das semanas de moda.
Com essas profissões bem definidas, é possível mover mais rápido as engrenagens da indústria de moda.

2. O coolhunter
O coolhunter é aquele que se insere em um ambiente social com o objetivo de tirar do lugar e do comportamento das pessoas os pontos e aspectos considerados positivos para serem usados em uma coleção. Este profissional gera os produtos e as idéias que serão absorvidas pelos grandes estilistas e espalhadas para o mundo como tendência pelos pesquisadores de moda.
Os jovens são observados e entrevistados por pesquisadores de várias áreas com o objetivo de captar o que for relevante, e transformar essa linguagem “estranha” em algo que possa ser digerido e apreciado comercialmente pelos consumidores em massa, que não são cool. “Transformar cultura em mercadoria” (FONTENELLE, p. 166, 2004), esse é o principio dese trabalho.
A palavra cool neste caso não significa apenas o que está no dicionário: legal. O cool para os dias de hoje é muito mais que isso, é algo exclusivo, diferente e que provoca desejo. De acordo com Mark W. Fillmore, é um comportamento, uma preferência, algo intangível que é admirado e se deseja copiar.
A origem das coisas cool, no artigo de Fontenele são os jovens e tudo que envolve o universo deles. Quem dita o que é novo são os chamados pelo marketing de consumidores alfa, early adopters[i] ou trendsetters[ii]. Eles são os guias em comportamento, moda e modos para as pessoas que aderem ao cool . Uma vez identificados, estes consumidores freqüentemente passam a trabalhar para as empresas de coolhunting.
Não existe nenhuma fórmula para ser coolhunter, cada pessoa aplica para si o que funciona para a compreensão do todo sócio - cultural, porém, em 1997, Malcom Gladwell em seu artigo para o jornal The New Yorker define três regras para ser um coolhunter.
Traduzindo seu texto, ele explica que o cool não pode ser observado porque foge; segundo: as companhias não podem fabricar o cool porque é algo que só pode ser observado e terceiro, o cool só pode ser observado por pessoas que também são cool.
Existe um paradoxo nessas regras que regem a cultura jovem de transformar as mercadorias e idéias em algo obsoleto e “fora de moda” muito rápido, bastando haver uma aderência em massa para algo deixar de ser novidade boa e virar “normal” ou fora de moda.
Com esta característica volátil dos geradores de novidade, o coolhunter precisa saber se inserir em um meio social de maneira natural. Filmore ainda vai mais longe e aconselha o uso de gírias e vestuário como ferramentas. O objetivo é “pegar no ar” algo que está na eminência de acontecer e que pode ser traduzido, muitas vezes transformado em cultura de massa.
A prática aconselhada é a observação da cultura jovem mundial, programas de música, blogs e fotologs, também conversar com pessoas jovens e saber como é a maneira deles verem o mundo, os hábitos e manias, devido ao fato de criarem códigos globais muito rápido, que desaparecem com a mesma velocidade. É preciso estar ao mesmo tempo merguhado na cultura e mantendo uma certa distância para filtrar (in)conscientemente o que o cidadão comum ainda não sabe mas irá desejar consumir.
Prever o futuro da moda começa pelo estudo dos ciclos da moda. É necessário saber que o tempo entre novidade boa e “batido” é bem mais curto do que era há dois ou três anos atrás, porém, a liberdade de escolha de estilo permite que algumas coisas permaneçam como peça chave de vestuário por muito tempo, algumas vezes, mais que o esperado.
A professora Valéria Brandini em sua oficina de pesquisa de tendência (quando e onde) classifica as tendências como longas, que são definidas como trends e curtas que são feds. As tendências longas devem durar até um ano e meio, enquanto que as feds podem ser comparadas com romances de verão, muitas vezes não duram mais de quatro meses. É necessário chegar ao desejo coletivo e alcançar o objetivo maior que é a satisfação e continuidade de consumo.
O coolhunter percorre o inconsciente coletivo e traduz em objetos palpáveis ou idéias de serviços o que apenas está no ar. Em breves linhas, o Inconsciente Coletivo explicado pela psicologia são experiências vividas repetidamente que ficaram armazenadas e são passadas hereditariamente. Holisticamente, o Inconsciente Coletivo são todas emoções, sentimentos e pensamentos que permeiam o universo.
De acordo com as duas explicações, o que é vivido, visto e sentido permanece em um lugar acessível a todos. O coolhunter precisa estar em sintonia com este “depósito” ao mesmo tempo em que o resto do mundo para ser bem sucedido.
Porém, existem estudos de marketing e comunicação que pesquisam os jovens e sua interação com o mundo. Estes estudos se tornaram necessários neste milênio devido às informações serem em grande quantidade e as pessoas começaram a filtrar os estímulos que recebem, e também porque nem tudo atinge da maneira que deveria ou que se espera, a percepção dos consumidores.
Apesar da mídia ainda ser a grande lançadora de conceito e identidade de consumo, freqüentemente é lançado um olhar para os lançadores de cool, ou seja, os jovens, para saber qual identidade deve ser atribuída ao lançamento.
Por outro lado, os jovens precisam ser convencidos que um produto é bom para adotarem como parte de sua identidade e/ou estilo, mas se baseiam na mídia para ter referências. Desta forma, um olha para o outro para formularem quem são, transformando- se em uma coisa só.
A moda é onde o coolhunter deve ser mais atento porque para uma marca de vestuário se manter cool no mercado é necessário mais que tendência, é necessário saber como abordá-las e como apresentá-las. É valioso o valor do cool para as pessoas.

3. O Pesquisador de moda

“Encontrar a resposta para a pergunta “De onde vêm as tendências? ”equivale a descobrir o caminho das pedras ...Ocorre que na sociedade pós-industrial a resposta à pergunta inicial não leva a nenhum lugar exato, precisamente porque leva a todos os lugares: quase tudo, hoje em dia, parece ser vetor de tendência!.” (CALDAS,2004, p. )
O pesquisador de moda trabalha com duas estações do ano: Inverno e Verão. A apresentação dos desfiles mais importantes para pesquisa de moda são em Paris, Milão, Nova Iorque e Londres, seis meses antes de realmente mudar o clima. Este tempo é necessário para o processo de produção da coleção, apresentação nas lojas e venda.
Um ano antes das semanas de moda acontecerem, é realizada a Première Vision, uma feira de tecidos, cores e padrões de estamparia, com as maiores indústrias têxteis mundiais apresentando em Paris as novidades e apostas divididas por tema. Cada espaço tem uma cartela de cor específica e as estampas e tecidos estão de acordo com o que está sendo abordado.
Fazer pesquisa de tendência atualmente é ver os principais desfiles, feiras e analisar as formas, cores, tecidos, atmosfera e temas abordados que se repetiram para apontar o que será usado em todo o mundo.
O principal objetivo é estar bonito, porém, dentro das regras de vestuário da época. Reconhecer, no outro, a roupa que você está usando, é afirmar inconscientemente que o seu gosto é bom, e o que você escolheu para vestir é comprovadamente bonito.
Antigamente as regras de vestuário eram mais claras e objetivas. Na Idade Média a nobreza tinha um código de vestuário e os pebleus tinham as sobras, o uso dos espartilhos foi generalizado para haver depois uma negação às amarrações.
Com a revolução sexual as mulheres passaram a adotar a indumentária masculina para em seguida ressurgirem da guerra com saudade da fragilidade e doçura que tinham antes.
O movimento hippie tinha como ordem ser livre de regras. Tanto no vestuário como no comportamento. Então todos, homens e mulheres, deixaram os cabelos crescerem e começaram a usar roupas unissex. Na mesma época, surgiu o glam que era também multissexual, porém mais elaborado, podendo ser considerado mais chique, e evoluindo na década de 1990 para os party monsters[iii]. Na época era uma segmentação de público (que não durou muito), mas que ilustra a realidade de multiplicidade cultural e de idéias em que vivemos .
Devido às mudanças culturais e comportamentais que cada década trazia, além das ramificações naturais de cada período, a moda, a publicidade e o comércio tiveram que se adaptar para continuarem ativos.
A pesquisa de tendências começou a surgir por volta de 1950/60, voltadas para a diferenciação de abordagem: chamar a atenção do consumidor para produtos iguais, massificados. A comunicação se tornou mais direta com o surgimento da televisão, então surgiram as primeiras pesquisas sobre as necessidades de consumo do público.
Por volta de 1970, principiou o uso de associação de imagens às sensações que o produto iria oferecer, ao invés do que antes era eficiente e que era apenas a apresentação do produto.
Em 1990 o uso de imagens associativas ao produto já estava saturado, várias formas de chegar ao cliente eram praticadas e o padrão de competitividade estava mudando, todos estavam em busca da inovação.
Faith Popcorn, em 1993 listou dez tendências de comportamento de consumo que têm prazo de validade de no mínimo dez anos. Retiradas do glossário, segue a lista das tendências com uma breve explicação ao lado.
Aventura da Fantasia: a era moderna aguça nosso desejo de caminhos desconhecidos.
Consumidor Vigilante: o consumidor manipula o pessoal de marketing e o mercado através de pressão, protesto e política.
Egonomia: a era estéril da computação gera o desejo de fazer uma afirmação pessoal.
Enclausulamento: a necessidade de proteger-se das realidades duras, imprevisíveis do mundo externo.
99 Vidas: um ritmo muito alucinante, um tempo muito curto causa esquizofrenia social e nos força a assumir vários papéis e a adaptar facilmente.
Pequenas Indulgências: os consumidores cansados querem dar-se pequenos luxos e procurar formas de recompensar-se.
S.O.S. (Salve o Social): o país redescobre a consciência social da ética, da paixão e da compaixão.
Sair Fora: as mulheres e homens que trabalham, questionando a satisfação e objetivos pessoais e profissionais, optam por uma vida mais simples.
Sobreviver: a consciência de que a boa saúde aumenta a longevidade leva a uma nova forma de vida.
Volta ao Passado: saudoso da infância tranqüila, o pessoal da geração baby-boom[iv] encontra conforto em atividades familiares e produtos da juventude.

O que antes era apenas voltado para o marketing e desenvolvimento de produtos novos, evoluiu e se transformou em tribos que usam nomes diferentes dependendo do ambiente em que estão localizadas, e são usadas para direcionar coleções de moda e difundir idéias, globalmente, em campanhas publicitárias, arquitetura e adaptar um estilo de vida a serviços.
Todas as tendências listadas são atingidas hoje por denominadores comuns: tecnologia e rapidez de informação, serviços e produtos facilitados, a consciência da satisfação do cliente vir em primeiro lugar. Estas características influenciam e unem as tribos.
O reflexo para a moda é: o cliente deve ser servido e é preciso ter o máximo de clientes possível, portanto, é necessário ter roupas que agradem a todos.
Também foi observado que, com o ritmo frenético do mundo, até os consumidores mais tranqüilos acabam por estar participando da 99 Vidas. Então a elaboração das tendências de moda e a forma de raciocínio do comércio mudou: O cliente deve ser servido, porém ele tem mais de um estilo, desta forma devo vender todos os estilos que ele deseja ter / realmente tem.
Desta forma, bem sintética e lógica, surgiram as tendências de moda mais opostas e abrangentes que conhecemos hoje com intenções de agradar e suprir as necessidades dos consumidores.
No emaranhado de desejo versus necessidade, comércio, marketing e características do consumidor, o pesquisador de moda age como um mediador entre consumidor e produto oferecido.
São nas passarelas que os objetos de desejo, por assim dizer, são identificados, nominados e depois apresentados em blocos coesos e justificados. A confirmação para nós brasileiros será nas vitrinas das mesmas marcas européias que desfilaram dois meses antes nas passarelas e a martelada final de acerto (ou erro) é a observação e fotografia das ruas, que mostra a aceitação do público.
Neste momento das fotos em sites ou arquivo pessoal, é que as tribos aparecem. Cada grupo interfere, à sua moda, na maneira de se vestir, criando uma identidade visual que é correlata com o movimento à que pertence naquele dia e momento.
Pesquisar moda é estar atento ao clássico, ao jovem, ao belo, ao feio, ao desordenado, ao antigo e ao moderno. É saber de tudo o que está acontecendo ao redor e no mundo e deve saber traduzir os sinais para algo que realmente venda.
Movimentos culturais locais influenciam a pesquisa de tendência de moda brasileira. O fenômeno “novela” é o exemplo mais cotidiano. Quando um personagem é campeão no ibope, todas as marcas, do Iguatemi ao Bom Retiro em São Paulo (em Fortaleza, do Iguatemi ao Beco da Poeira) copiam. Seja o vestido da Belíssima
[v], a saia da Sabrina[vi] o look louro platinado com roupas justas da Leona[vii] até a cor do esmalte, batom, bolsas, brincos e cortes de cabelo do personagem do momento.
Os pesquisadores de moda das redes televisivas se baseiam também pelos desfiles, vitrinas dos centros internacionais de moda e confirmação nas ruas, então o período de seis meses entre os desfiles lá e o que realmente acontece nas ruas aqui é interpretado e traduzido para o brasileiro pelos figurinistas de redes televisivas.
Pesquisar moda no Brasil é filtrar e direcionar o que acontece na Europa e Estados Unidos, que são os grandes pólos atualmente, para as tribos que temos, com a cultura e forma de comportamento, os símbolos de linguagem verbal e não-verbal local e particular de cada grupo.
O pesquisador de moda tanto traduz os signos visuais e informações apresentadas nas passarelas como também adapta isso para a realidade em que vive.
[i] Early adopters, do inglês adotadores precoces, se refere aos jovens que por serem mais audaciosos dentro do meio em que estão inseridos, são copiados pelos outros jovens e viram alvo de coolhunters
[ii] Trendsetters do inglês são ditadores de tendências, outra nomenclatura para o item anterior.
[iii] Grupo de jovens que usavam fantasias muito bem elaboradas para irem às festas de música eletrônica em Nova Iorque na década de 90. Movimento mal visto pelo constante uso de álcool e drogas.
[iv] Baby-boom foi o aumento da taxa de natalidade nos Estados Unidos logo depois da Segunda Guerra Mundial.
[v] Novela exibida pela Rede Globo que consagrou os vestidos estampados da estilista Adriana Barra, considerada na época como a estilista mais moderna do momento.
[vi] Sabrina foi uma celebridade momentânea que participou do Big Brother Brasil exibido pela Rede Globo e ficou famosa por usar uma saia de babados bem curta com meias até o joelho. Hoje, Sabrina faz parte do programa Pânico na TV exibido pela Rede TV.
[vii] Leona foi personagem vilã da atriz Carolina Dieckman na novela Cobras e Lagartos exibida pela Rede Globo

4. Bibliografia
CALDAS, Dário, Observatório de Sinais: Teoria e prática da pesquisa de tendências. 1961, Rio de Janeiro: Editora Senac Rio, 2004.
FAUX, Dorothy Schefer, Beleza do Século, São Paulo: Cosac & Naify, 2000.
FILMORE, Mark W. Coolhunting: the commodification of creative expression and the alienation of youth, resumo de tese para Oregon State University, março, 2008.
https://ir.library.oregonstate.edu/dspace/bitstream/1957/8327/1/Complete+Thesis.pdf acesso em 02/05/2008.
FONTENELLE, Isleide A. Os caçadores do Cool, Nº 63, p- 163-177. Issn. 01026445.
www.scielo.br/pdf/ln/n63/a07n63.pdf. Acesso em 09/04/2008 às 09:00
NERY, Marie Louise, A evolução da Indumentária: subsídios para criação de figurino. Rio de Janeiro: Ed. Senac, 2003.
POPCORN, Faith, O relatório Popcorn, Elsevier Editora, 1993.
ZANATTA, Rodrigo. O Id e o Inconsciente Coletivo, questões a Freud, Jung e Lacan. São Paulo, 1999. acesso:
www.rubedo.psc.br/Artigos/idcoleti.html em 05/04/2008 em 17:41.

Dragão Fashion: divulgando a cultura, a arte e a moda do Ceará

Ticiany Sampaio Santos
Graduanda de Estilismo e Moda
Universidade Federal do Ceará
ticy_sininho@hotmail.com

Considerado por muitos o maior evento de moda conceitual do Brasil, o Dragão Fashion chega em 2008 com o intuito de unir definitivamente moda e arte, com o tema “Dragão de todas as artes”. Um evento que amplia sua importância em todo o país como catalisador e divulgador de novos profissionais de toda a região. Neste ano o Dragão Fashion dará ênfase à cultura cinematográfica e artística do Nordeste, com a associação do evento ao Cine Ceará e ao Salão de Abril.
Como nos outros anos a programação abriu espaços para estilistas regionais renomados, por exemplo, o profissional Mack Greiner, que tem uma boa visibilidade em outros estados. Além de abrir portas para novos talentos mostrando belíssimos trabalhos de estilistas nordestinos, acadêmicos ou não, em concursos. Dá ao Ceará à oportunidade de apreciar trabalhos de artistas e estudiosos da moda, de amplitude nacional e internacional, tanto pela exibição de peças e desfiles, como pelo “Dragão pensando moda”, onde ocorrerão palestras e mesas redondas com convidados. Um prato cheio para a mídia, estudantes e fashionistas.
Particularmente a maior importância do “Dragão” está no âmbito profissional e acadêmico, na oportunidade de promoção de novas empresas, artesãos, estilistas e estudantes da área de moda e outras, na divulgação de novos meios artísticos e sua associação com a moda, abrindo portas e mentes para a mistura e o aproveitamento do que é feito no estado.
É de conhecimento mundial a influência do cinema, do artesanato e das artes na moda, e essa seria uma ótima oportunidade de dar verdadeira ênfase articulação tripla na cultura e na moda Cearense, e de divulgar isso ao público em geral. A cultura e os profissionais regionais sendo valorizados por um grande evento, que começa tendo a iniciativa privada, e depois abre as portas para o público em geral, é uma boa oportunidade para esse mesmo espectador começar a reconhecer o valor da produção de sua região e tentar iguala-lo aos de outras lugares em qualidade e originalidade.

Bibliografia - Sites:
http://www.augustobezerril.com.br/
http://www.buganet.com.br/
http://www.textilia.net/
http://www.dragaofashion.com.br/
http://www.carreirafashion.com.br/
http://www.profissãomoda.com.br/

A chama do Dragão

Renata Monteiro
Graduanda de Estilismo e Moda
Universidade Federal do Ceará
renatamgadelha@hotmail.com


O Dragão, segundo a mitologia chinesa, foi um dos quatro animais sagrados convocado para a criação do mundo. Uma das lendas conta que foi a carpa, querendo atingir o topo da montanha e superando o obstáculo das correntezas e cachoeiras, que se transformou em dragão. No ocidente, o Dragão é uma junção de vários animais místicos: olhos de tigre, corpo de serpente, patas de águia, chifres de veados, orelhas de boi, bigodes de carpa... e sempre associado ao fogo que destrói, mas permite o nascimento do novo.
Seja no oriente como água, ou no ocidente como fogo, o Dragão carrega o significado da força de vontade, superação de obstáculos, transformação, sabedoria, sucesso...
Aqui no Ceará, misto de água e fogo, temos Dragão do Mar, que foi símbolo de força, vontade e superação. Jangadeiro que se recusou a transportar escravos. Então, com tanta força no nome, será que estamos honrando a arte Dragão? A arte feita de sabedoria, superação, transformação, força e beleza. Ou nos rendemos à simplesmente sermos levados pelas correntezas e cachoeiras?
O Ceará cresce como pólo gerador de roupa, mas não como pólo gerador de moda. Conformamos-nos em estar entre os últimos colocados na corrida por um estilo. Porque os pólos geram a moda, que chega ao Brasil já “observada” – vulgo, copiada- pelos olheiros brasileiros, e será re-lançada em grandes eventos de São Paulo e Rio de Janeiro e, por “quase-último” vem ser re-exibida no Ceará. Repito, re-exibida. Não ressignificamos, simplesmente repetimos o que já foi mostrado. Não inovamos muito, a não ser no “mostruário”, que muitas vezes também vem importado de São Paulo. Se “Vale a pena ver de novo” fosse melhor do que novela nova não iria passar à tarde e sim em horário nobre.
Então qual a imagem que temos de última moda no Ceará? Blusas com mangas 3/4, calças compridas cheias de apetrechos e coturnos? Casacos com plumas e botas de camurça? Meninas magérrimas, loiras e de olhos azuis? Cadê nosso regionalismo? Não digo renda, nem chita. Digo moda bela e útil para o nosso clima; digo beleza em nossas baixinhas de cabelos negros e olhos de jabuticaba.
Me canso também das pessoas representarem Nordeste só com couro e chapéu de vaqueiro. Porque somos isso, mas também somos mais do que isso. Temos a capacidade de criar texturas e formas inovadoras, mas nos retemos em meras “imagens caricaturadas”. Podemos honrar nossa terra também sendo diferente. Paradoxo? Ser regional, mas não ser regional? Quase. Sugiro um regional inovador. Nada de figuras manjadas. Sinto necessidade de revolução. Uma moda que não seja simplesmente copiada de outro canto e sim que seja criativa, usando tendências e o que temos – e olhe que não é pouco. Que usemos o dragão ocidental, junção de vários, porém um ser único.
Estudamos para de carpas nos transformarmos em dragões e em algum momento nos perdemos. Falta a força para lutar contra a correnteza e determinação para subir a cachoeira. Aos que inovam? Pedras. Porque como explicar aos olhos coisas que o cérebro não mais entende?
Por isso simplesmente indico: às carpas: metamorfose; aos dragões: perseverança; à mim: paciência.

Moda e arte - entremeios

Katiana Lopes Galdino
Graduanda em Estilismo e Moda
Universidade Federal do Ceará
kati.bb@hotmail.com



O 9o Dragão Fashion Brasil discutiu a relação entre moda e arte. O cinema, o artesanato e as artes plásticas inseridos no mundo da moda para pensarmos, discutirmos e abrirmos os horizontes ao novo, para um novo cotidiano que trás o extraordinário às passarelas, como perfeitas obras de arte.
Esse novo conceito de moda-arte trás inúmeras divergências, pois não se pode afirmar, sem correr o risco de estabelecer uma polêmica, que a moda é realmente arte. Se para algumas as pessoas essa relação é uma obviedade, há os que afirmam que moda nunca poderá ser confundida ou traduzida como arte, já que é uma indústria para o consumo e a efemeridade.
O DFB nos trouxe um arsenal de arte em sua composição. Inúmeros estilistas mostraram que a moda pode estar muito próxima da arte. Obras primorosas encantaram nossos olhos nesse evento. O estilista Mark Grainer e o escultor Efrain Almeida entraram em sintonia e fizeram das passarelas um museu, expondo obras primas. Essa edição do DFB transpirou moda, arte e cultura.
Moda pode ser uma expressão de arte, mas nem toda moda é arte. Como distinguir? Para isso devem-se aguçar olhares, avaliar cautelosamente e viver essa nova etapa que nos trás a arte na moda, nos fazendo repensar conceitos, olhar a moda, a arte, a vida de uma maneira mais ampla.

Moda e a relação com as artes plásticas

Jaqueline de Souza Freitas
Graduanda em Moda
Universidade Federal do Ceará
asterajackie@hotmail.com


Não há como negar a existência de uma relação da moda com as artes plásticas, como fonte de inspiração do estilista. Baseada na edição da revista Vogue Brasil (Dezembro, 2007), que traz uma publicação do aniversário dos sessenta anos da Dior, em que John Galliano apresenta um diálogo da moda com a arte, fotografia e ilustração, pode-se constatar uma amostra dessa relação. Nas roupas criadas por esse gênio do estilo e da criação, percebem-se as estruturações de elementos que a arte se utiliza, como por exemplo, a linha, as formas abertas, a unidade, a obscuridade e principalmente o pictórico. Movimentos rebuscados dos vestidos, linhas e formas diversas, volumes e cores, nelas representadas o cubismo, barroco, o contemporâneo, o clássico, em que uma simples roupa, antes funcional, transforma-se em artístico, utilizando a linguagem similar da plástica. O conhecimento adquirido através da pesquisa histórica artística faz com que o criador e o espectador se surpreendam, o primeiro que nasce para a obra, no caso para a vestimenta, e o último transformado pela obra. Lapidando a matéria, o artista /estilista faz com que seu diálogo com estas expressões possibilite sugestões e a mesma impõem as possibilidades de se moldar à vontade do mesmo. A grande preocupação do artista /estilista é não fazer uma imitação do real, nem uma cópia da arte, mas interpretá-la, retirar do momento artístico a inspiração e o conceito visível ao espectador. No meio desse show o corpo molda-se e encena como num teatro passageiro, ajudando a moda a ganhar status de arte e arte tornando-se efêmera.

Moda e Arte: interações no Dragão 2008

Giulliana Eline Coelho Ferreira Carvalho
Graduanda em Estilismo e Moda
Universidade Federal do Ceará
giulliana.eline@gmail.com

O “Dragão de Todas as Artes”, tema do Dragão Fashion de 2008 propõe uma interação e aprofundamento das relações entre moda, artes visuais, cinema e artesanato solidário. Estando a moda inserida em todos os campos de nossa sociedade. Ao estabelecermos diretamente esse link, ponderamos sobre o criar moda como uma arte ligada a todas as outras.
O estilista, assim como todo artista, precisa mergulhar em um mundo de inspirações, cores, formas, texturas, volumes e até mesmo no comportamento daqueles a quem se destinam suas criações. Tudo o que se pode ver, torna-se inspiração para o criador de arte.
No cinema, por exemplo, basicamente cada produção é diretamente dependente de seu figurino, tanto quanto de seu cenário e ambientação. O que cada personagem veste nos ajudará a interpretar seus papéis e importância no contexto da história, bem como a época, a cultura, do lugar em questão.
Considerando moda também uma arte visual, é possível encontrar uma relação direta com toda arte que está ao alcance de nossos olhos, especialmente por ela ser um termômetro de comportamentos e tendências da sociedade globalizada em que vivemos.
O processo criativo, base de todas essas artes, também está presente no artesanato, que vem ganhando força com sua interação direta com a moda local e melhor, tem cada vez mais saído de nosso estado para invadir as ruas e passarelas do país inteiro e até do mundo. Tal impulso deve-se ao incentivo de eventos como o Dragão Fashion, que procuram enriquecer e valorizar nossa moda e cultura, abrindo espaço para a revelação do que há em nosso estado.

DRAGÃO DE TODAS AS ARTES- entrelaces artísticos

Carolina de Mendonça
Graduanda em Estilismo E Moda
Universidade Federal do Ceará
carolinadoestilo@hotmail.com


Moda sempre foi um espelho de grandes movimentos da humanidade, abrangendo várias formas de manifestações das culturas, desde as mais arcaicas às mais rebuscadas. É possível perceber esta interligação desde a música e cinema ao artesanato.
Não foi à toa que a primeira edição da versão brasileira da “ROLLING STONE” tinha Gisele Bundchen na capa, mostrando que moda e música sempre estiveram relacionadas, pois não dá para pensar em moda sem música, nem música sem moda.
É possível verificar que bandas e cantores, frequentemente ditam moda e tendência e são verdadeiros formadores de opinião. Nos desfiles de moda, a trilha sonora do desfile é fundamental para a atmosfera fashion que rodeia esse universo.
Com o avanço da tecnologia, e principalmente da comunicação, o mundo evoluiu e a indumentária também, havendo ainda um grande desenvolvimento nas formas de disseminação da moda, que se tornou mais rápida com a invenção do cinema, transformando a roupa e a vida das estrelas em objeto de desejo. O figurino de cada personagem é peculiar, evidenciando, que moda acima de tudo é uma ferramenta de comunicação, e ainda, uma forma de se integrar em determinada tribo ou grupo. O figurino está cheio de significados, determinando seu valor social. Moda e cinema vendem sonhos. O cinema, com o tempo, deixou de ser apenas uma referência de moda e comportamento, para ser também a grande indústria vendedora de moda do mundo.
E nos últimos anos, o artesanato, antes visto como tradição, tem mostrado uma forte ligação com a arte e o universo fashion, através de peças criativas e originais, aplicadas em roupas e acessórios. A criatividade do artesanato brasileiro, aliado à diversidade cultural do nosso país, tem despertado interesse até em outros países, que conseguiram perceber o valor estético e comercial da nossa cultura. A arte artesanal local se tornou uma forte aliada para consumidores que querem ser únicos, não aderem às padronizações, e apreciam o que é singular, individual, personificado, com identidade própria.

Moda solidária: antes e depois

Gabriela Ferrera
Graduanda em Estilismo e moda
Universidade Federal do Ceará
E-mail: gabrielaferrera_@hotmail.com


Como processo social, a moda é efêmera. Os consumidores de moda estão cada vez mais interligados com o mundo e suas tendências, tornando-se mais exigentes e ávidos por novidades. A partir dessa perspectiva, surgem várias oportunidades de geração de renda e de inclusão social através desse segmento de mercado.
Contraditoriamente à massificação de produtos, fala-se em individualização da moda como meio de diferenciação de estilo ou de conceito. Técnicas de artesanato como crochê, bordados e outras são introduzidas em coleções, agregando mais valor ao produto e beneficiando comunidades produtoras através de novos meios de geração de emprego e de cidadania.
Da interação do trabalho de artesãos e de estilistas, surge um resultado fantástico, porém, na maioria das vezes, momentâneo. Alguns grupos de artistas artesãos não são capacitados para caminharem sozinhos e voltam ao estilo de produção anterior. Esse é um ponto que deve ser analisado pelos responsáveis, pois as comunidades necessitam não só do incentivo verbalizado, mas também de meios concretos para a continuidade desse trabalho singular.
Em contraposto a essa realidade existem grupos que são acompanhados por projetos específicos e que conseguem firmar um produto diferenciado, atendendo as expectativas dos consumidores e do mercado, não só o local, mas também se destacando em outras regiões e países.
No calendário de moda de Fortaleza, alguns eventos priorizam essa interação entre setores. Em especial o Dragão Fashion em suas últimas edições vem fortalecendo o “link” entre moda, artes e sociedade. No ano de 2007, o estilista Mark Greiner, juntamente com o resultado do Projeto Rendas e Bordados do Ceará, uma parceria com o SEBRAE-CE e grupos de artesãs dos seguintes municípios cearenses de Aracati, Paracuru e Trairi, apresentou uma belíssima coleção onde mesclou harmoniosamente elementos de sua origem de vida com diversas técnicas de trabalhos manuais desenvolvidos pelas comunidades. Assim, ponto a ponto, vai se afirmando a existência de um diálogo positivo entre moda e inclusão social.

Beleza: Conceitos e Absurdos Culturais

Mónica Féria Theotónio da Costa Serrão
Estudante da Universidade Técnica de Lisboa em intercâmbio na UFC
Monicacserrao@hotmail.com


“Beleza é uma percepção individual caracterizada normalmente pelo que é agradável aos sentidos. Esta percepção depende do contexto e do universo cognitivo do indivíduo que a observa.” (Wikipédia)

Partindo deste pressuposto todos os indivíduos têm noções diferentes do que é a beleza, variando do lugar, do tempo e do espaço em que cada um deles se insere. Porém esse conceito individual de beleza é na maioria das vezes manipulado por algo exterior a ele, tal como os mídia e a televisão na nossa sociedade actual, ou mesmo pelos chefes das tribos indígenas, por exemplo.
Desde o inicio da civilização que todas as sociedades, organizadas a partir de relações desiguais de poder, são administradas e regidas por alguém ou algo superior, que impõem a sua vontade e os seus valores face aos outros.
A manipulação do conceito de beleza, está presente em várias sociedades através de diferentes modificações corporais a que os indivíduos se submetem para alcançar o ideal de beleza desejado, que é (quase) sempre o vigente em sua cultura.
É o caso das mulheres Karen, ou “mulheres girafa” como são conhecidas, da tribo Mae Hong Sorn, na Tailândia. Nesta tribo, a partir dos 5 anos de idade, são colocadas argolas de bronze à volta do pescoço das meninas à medida que vão crescendo.
Outra tradição que utiliza a modificação do corpo como ideal de beleza é a dos sapatinhos chineses ”Lótus”. Esta prática perdura desde o séc.X, e apesar de proibida pelo governo chinês no séc.XIX, algumas mulheres ainda a praticam com suas filhas. Consiste nuns sapatos que fazem com que os dedos dos pés se vão dobrando (excepto o grande para manter o equilíbrio), de forma a diminuir o tamanho deste, já que o ideal de beleza era ter os pés do menor tamanho possível, e sem ele as mulheres não se podiam casar.
Ambas as tradições, para a nossa sociedade ocidental actual podem parecer completos absurdos, porém, se observamos com atenção para os nossos costumes iremos perceber que não são tão absurdas assim.
As depilações dolorosas, os produtos químicos para esticar ou enrolar ou mudar a cor dos cabelos, as horas no salão de beleza e na academia, a tortura diária dos saltos altos, o uso das cintas, espartilhos, sutiãs, já para não falar nas operações plásticas a que algumas mulheres se submetem, não será isso um absurdo também?
Duas coisas são certas, o conceito de beleza é puramente cultural, logo inconstante e alterável, e muitas vezes cruel e doloroso. A outra é que os indivíduos de cada sociedade, principalmente do sexo feminino, acabam por ter esse conceito de beleza, da sua cultura, escrito nos seus corpos.

Moda como fenômeno social

Fashion as a social phenomenon
Katiana Lopes Galdino
Graduanda de Estilismo e Moda
Universidade Federal do Ceará
kati.bb@hotmail.com



Resumo
A moda deve ser entendida como fenômeno social, responsável por mudanças importantes que ocorreram nas sociedades onde se desenvolveu, refletindo-a nos processos pelos quais passou. Acompanhando da evolução da história, consegue-se saber quando a moda aparece, porque aparece e qual sua finalidade. A partir desse estudo pode-se entendê-la não apenas como mudança de trajes ao passar dos tempos, mas como mecanismo de transformação das raízes sociais e psicológicas.



Palavras-chave: Moda, sociedade, história, indumentária, transformações, efemeridade.


Abstract
The fashion should be understood as social phenomenon, responsible for important changes that have occurred in society which was involved directly and the processes by which passed. Through the evolution of history, able to know when the fashion shows, because they appear and what their purpose. From this study we can see it not only as changing costumes to the passing of time, but as a mechanism for transforming the social and psychological roots.

Key works: Fashion, society, history, clothing, processing, efemeridade



A moda - fenômeno de algumas sociedades

A moda propriamente dita, com seu papel de mudanças bruscas, renovação da forma e da aparência, surge no final da Idade Média, tendo raiz no ocidente moderno, e apenas lá surge e se afirma para depois, e muito depois, se tornar um fenômeno global.
Através da história do vestuário foi possível fazer pesquisas que revelaram os feitos da moda na sociedade, constatando-se, desde seu surgimento no ocidente, que ela é desprovida de conteúdo próprio, e, a cada instante, bruscamente ou não, muda. Primeiramente e principalmente no vestuário até o século XIX e XX, centrou seu foco no feérico das aparências.
É importante compreender como essa transição da tradição para a efemeridade da moda se desencadeou. Em que ela mudou a vida social e como ocorreu esse processo, para que o entendimento a cerca de moda como fenômeno social seja compreendido, aceito e discutido com o valor e peso merecido.
Durante milhares de anos, a humanidade viveu sem jogos de frivolidades e mudanças incessantes. Os homens ditos primitivos, apesar de se ornamentarem e mudarem os trajes em cerimônias não pode ser considerado, nesse momento, como moda. Eles eram ligados ao respeito pelo passado, pelos costumes e tradições antigas, organizados a não aceitarem uma dinâmica de mudanças à dependência de um passado mítico, daí a moda não ter se instalado nas civilizações ditas ‘selvagens’.
Para que a moda possa aparecer é necessário que os homens tenham autonomia de mudanças na sociedade para libertarem-se dos costumes de antes e o desejo e autonomia na estética. O estado e a divisão de classes foram peças para o surgimento da moda e tudo o que trás de mudanças na sociedade. Nem sempre o contato com povos externos, trazendo destes alguma influência, não introduzia mudanças substanciais que modificassem a estrutura da sociedade. A moda acontece quando a curiosidade pelo novo torna-se um traço cultural autônomo. Assim, os gostos pelas inovações e jogos de frivolidades começam a fazer parte da vida social.
A moda aparece na metade do século XIV, com um tipo novo de vestuário, curto e ajustado para o homem e longo e justo exaltando a feminilidade da mulher. Sendo uma revolução do vestuário, as bases do traje moderno. A maior diferença, desde então, entre os trajes masculinos e femininos, difundindo-se entre por toda a Europa ocidental. A partir desse momento, a mudança constante tornou-se regra da alta sociedade, com suas fantasias, decorações, exageros e ostentações efêmeras, frívolas e prazerosas. Na idade média os ritmos de mudanças foram bem menores e espetaculares do que no século das luzes (Iluminismo), esse extremamente incessante. No fim da idade média já surgem crônicas a respeito das rápidas mudanças nos trajes e sua cronologia, assim como livros que relatavam as mudanças passageiras no vestuário.
Um escritor da França no século XVI, Montaige afirma que: “Nossa mudança é tão súbita e tão rápida nisso que a invenção de todos os alfaiates do mundo não poderia fornecer novidades suficientes”.
Já no século XVII, a efemeridade nas mudanças dos gostos são criticadas em obras, sátiras e opúsculos. “Evocar a versatilidade da moda tornou-se uma banalidade” (LIPOVETSKI,1997, p.31). A moda e suas mudanças efervescentes eram tidas como objeto de questionamento, espanto, fascínio e encanto.


Mudanças de moda – há algo mais sob as aparências

Apesar da incessante mudança da moda, ela não muda por inteiro. As mudanças mais rápidas são em ornamentos e acessórios, nos pequenos detalhes, enquanto a estrutura e as formas gerais do vestuário são mais perenes. Com a moda e nos detalhes mudando rapidamente, cresce um dispositivo de distinção social. Ele classifica, exclui, une pessoas e grupos e caracterizam a moda.
A moda não é marcada somente pelas mudanças constantes, lúdica e frívola, do gosto pelo novo. Mas marca uma nova forma de socialização, a mudança que era imutável, a crença e continuidade de costumes dos antepassados. O antigo deixa de ser venerado e o presente inspira respeito, desejo e mudanças. Com a moda a soberania e autonomia do homem são exercidas no mundo e na estética de parecer e aparecer.
Para se entender o fenômeno “Moda”, como um fenômeno cultural, social e sua evolução não apenas em trajes, mas como uma forma de distinção, de evolução na democracia no vestir, marcando assim os momentos importantes pelo qual a sociedade passou, é necessário procurar na história das sociedades seu surgimento, sua necessidade e importância para que novos caminhos pudessem surgir, solificarem-se, mudarem novamente, agora com uma intensidade enorme e cada vez mais e mais.
A moda, um acontecimento que modificou os trajetos da sociedade de uma forma tão brusca, deve deixar de ser encarada como simples mudança de trajes, ainda para alguns, e ser concebida como fenômeno ao qual se enquadra. Para isso, é necessário que os estudos científicos em moda alcancem mais lugares, mais pessoas, e que comece a ser difundida como um fato histórico e social.
A moda hoje está se iniciando no mundo científico, já alcançou um patamar de respeito se comparada a simples futilidade de outros tempos, mas ainda há muito a caminhar para que ela deixe de ser aceita apenas para uns e se insira como aspecto fundamental de mudança social, psicológica e analítica.


Referências Bibliográficas:
LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero. São Paulo: Cia das Letras, 1997

Artesanato - da arte à cultura no contexto da moda no Dragão Fashion Brasil

Dayana Felicia Rodrigues dos santos
Estudante de Estilismo e Moda
Universidade Federal do Ceará
dayfelicia@hotmail.com

O Dragão Fashion Brasil em sua oitava edição convida-nos a buscar as relações da moda com diversas artes e a cultura, tema bem visto aqui no Ceará. E no meio de todas as artes evidenciamos o artesanato, uma das artes mais antigas e atualmente muito ligada a moda. Colocar o artesanato no meio de tanto ‘glamour’ faz com que ele seja mais bem visto por aqueles que não conseguem percebê-lo como parte essencial da moda. O evento deste ano promete colocar a cultura e a moda lado a lado, mostrando a verdadeira ligação entre moda, cultura e arte. A moda é uma arte e a cultura é lida com muita atenção pelos estilistas que se referenciam nela para criar novos estilos e tendências.

“...O ser humano que lida com a arte, seja ela: cênica, visual ou sonora, certamente encontra-se passos adiante dos que não têm contato com o objeto estético. É preciso ser artista e se recriar a cada dia.”

A cultura está ligada à produção vestimental dos povos e o artesanato conta grande parte dessa história. Antes se dizia que o artesanato era um trabalho manual com uma essência de produção artesã, feita no âmbito doméstico e caracterizado por regiões e culturas locais. Mas como caracterizar as pequenas fábricas de artesanato que encontramos hoje por aí.? Então, podemos observar que não temos como deixar esse conceito prevalecer, pois o artesanato é mais que tradição na nossa vida, seja urbano ou rural. Ele vem mudando, acompanhando as mudanças da sociedade, e hoje interage com várias formas de arte. A criação feita pelos artesãos é reinventada sempre, pois o artista sabe a hora de recriar sua arte, e a moda integra o artesanato e vice-versa, com esse mesmo poder de reinventar arte e criações de acordo com a necessidade do momento. O apoio dado ao artesanato, e a todas as outras artes, na oitava edição do Dragão Fashion Brasil favorece e enriquece a moda e a cultura do nosso país, que sempre coloca uma perspectiva regional em alta, ressaltando a importância particular da sua história e da sua arte. Com a atenção desse grande evento espero que não só o artesanato como todas as artes visitadas durante o Dragão Fashion tenham maior aproximação com o campo da moda, enquanto formas expressivas da civilização atual.

Bibliografia
http://www.infoescola.com/artes/o-que-e-arte/
http://sobredesign.wordpress.com/2006/09/14/artesanato-e-design/
http://www.augustobezerril.com.br/noticia.php?idn=1844
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=511014

15 de abril de 2008

O cinema perde a sua brasa – apaga-se, aos poucos, o fogo na sétima arte

Por Ivna Macedo
Graduanda de Estilismo e Moda
Universidade Federal do Ceará
Email: ivnam@live.com
A imagem é algo intrínseco quando se fala de moda. Barthes analisa a moda sob diversos aspectos: lingüísticos, psicológicos e, inclusive, o da imagem. A imagem da moda pode ser representada por inúmeras áreas. Essa imagem pode ser expressa na fotografia, com editoriais de revistas de moda como a Vogue, L’Officiel ou Elle; no artesanato, com estilistas genuinamente brasileiros como Mark Greiner ou Lino Villaventura; na publicidade com campanhas publicitárias das grandes marcas; nas artes plásticas, que, cada vez mais, se unem às tendências da moda. Na sociedade atual, estamos sendo bombardeados de imagens o tempo todo, por todos os lados.
A moda como imagem também está no cinema. Essa faceta da arte está cheia de referências de moda. Não só com filmes temáticos sobre ela como: Prêt-à-porter, sátira de humor negro dirigida por Robert Altman que fala de uma série de romances que ocorrem durante a semana de moda de Paris e mistura a realidade dos desfiles com a ficção do enredo; e o mais recente O diabo veste Prada, dirigido por David Frankel que, supostamente, conta a história da famosa, porém hostil editora da revista Vogue americana, mas também pode ser expressa nos figurinos memoráveis de filmes ganhadores do Oscar de melhor figurino como: Moulin Rouge, Titanic, Gladiador, Shakespeare apaixonado, Memórias de uma Gueixa e tantos outros que nos remetem a lugares e datas somente pela magia visual.
O cinema traz muitas referências marcantes da moda, não só nas telonas, mas fora delas também: atrizes e atores de Hollywood são grandes trend-setters. Todo ano saem críticas sobre os mais chiques e os nem tanto assim do tapete vermelho da premiação mais esperada do calendário. Porém, em suas últimas edições o vermelho do tapete tem perdido seu glamouroso brilho. Vestidos e trajes repetitivos têm sido motivo de tédio entre os principais jornalistas de moda. A imagem da moda têm achado outras vertentes para se mostrar como em clipes musicais, internet, televisão... as figuras mais inesperadas estão se tornando celebridades com a ajuda da alavanca social que é a moda.
BIBLIOGRAFIA
BARTHES, Roland. Sistema da moda. Sao Paulo: Nacional, 1979. 301p
http://www.iMDb.com
http://www.oscar.com

Moda e a Sétima Arte

Priscilla Venâncio
Graduanda de Estilismo e Moda
Universidade Federal do Ceará
e-mail: pri_venancio@yahoo.com.br


Se formos pensar a relação entre Moda e Cinema, não há dúvidas de que um interage com o outro desde o surgimento do cinema. Atualmente é mais fácil pensarmos em Moda e Televisão. O cinema desempenhava um papel de agente social, levando a população a sair de casa e interagir com os demais, podendo então ter acesso ao que as estrelas usavam e como se comportavam. A televisão após a II Guerra Mundial, mais popular e comercializada, tornou-se o meio de comunicação e cultura mais difundido e mais ‘democrático’. Porém, ainda assim, não se pode descartar a grande influência que a Moda exerce sobre a Sétima Arte, ou o inverso.
O cinema não pode ser definido apenas como difusor de Moda, relacionada à indumentária, mas também de comportamento. Conceitos, como de beleza, de masculinidade e feminilidade foram ditados e tabus foram discutidos a partir dos filmes, apesar da grande polêmica que causavam. Podemos citar inúmeros filmes que ao longo das décadas deixaram a sua marca, não só como documentos históricos, que legitimam a indumentária e os costumes da época, mas também como lançadores de Moda quando foram lançados.
Como exemplo polêmico, que desafiou os conceitos da época, o filme “Juventude Transviada” (1955), com James Dean e seu estilo despojado de vestir e de se portar diante da sociedade. Trazendo para as lojas a famosa camiseta branca, antes usada apenas como ‘roupa de baixo’. Outro exemplo é o biquíni xadrez usado por Brigite Bardot no filme “E Deus criou a mulher” (1956), que apesar de ser um escândalo para a época uma mulher aparecer nas telas vestindo apenas um biquíni, foi bastante copiado por mulheres do mundo todo.
Já tratando da relação inversa, da Moda influenciando o Cinema, o exemplo mais atual que temos é o filme “O Diabo veste Prada” (2006), filme que retrata o mundo da Moda com seu glamour, seus defeitos e intrigas, mas principalmente mostrando a importância dela na sociedade.
O Dragão Fashion Brasil 2008 vem trazendo como tema de sua nona edição “Dragão de todas as artes” focando o artesanato, as artes plásticas, cinema e a relação destas com a Moda. Temos então uma ótima oportunidade de pensar nesse assunto, tirando dos nossos antigos conceitos que Moda é apenas vestir.

1 de abril de 2008

Moda Solidária: Antes e depois

Gabriela Ferrera
Graduanda em Estilismo e Moda UFC
E-mail: gabrielaferrera@hotmail.com


Como processo social, a moda se caracteriza pela efemeridade e os seus consumidores estão cada vez mais interligados com o mundo e suas tendências, tornando-se mais exigentes e ávidos por novidades. Contraditoriamente à massificação de produtos, fala-se em individualização da moda como meio de diferenciação de estilo ou de conceito.Técnicas de artesanato como crochê, bordados e outras são introduzidas em coleções, agregando mais valor ao produto e beneficiando comunidades através de novos meios de geração de emprego e fortalecimento da cidadania.
Da interação do trabalho de artesãos e de estilistas, surge um resultado fantástico, porém, na maioria das vezes, momentâneo.Alguns grupos de artistas não são capacitados para caminharem sozinhos e voltam ao estilo de produção anterior. Esse é um ponto que deve ser considerado, pois as comunidades necessitam não só do incentivo momentâneo, mas também de meios concretos para a continuidade desse trabalho singular.
Em contraposto a essa realidade existem grupos que são acompanhados e que conseguem firmar um produto diferenciado, atendendo as expectativas dos consumidores e do mercado, não só o local, mas também se destacando em outras regiões e países. O programa SEBRAE de artesanato, Irmãos do Ceará, conta com a participação de profissionais de diversas áreas, como estilistas, publicitários, administradores e outros, capacitando novos grupos, aperfeiçoando técnicas e produtos, dando assessoria gerencial, apoio a comercialização, marketing do artesanato cearense e apoio a obtenção de crédito.
No calendário de moda de Fortaleza, alguns eventos priorizam essa interação entre setores. Em especial o Dragão Fashion que em suas últimas edições vem fortalecendo o “link” entre moda, artes e sociedade. No ano de 2007, o estilista Mark Greiner, através do Projeto Rendas e Bordados do Ceará, uma parceria com o SEBRAE-CE e grupos de artesãs dos municípios cearenses de Aracati, Paracuru e Trairi, apresentou uma belíssima coleção onde mesclou harmoniosamente elementos de sua origem de vida com diversas técnicas de trabalhos manuais desenvolvidos pelas comunidades. Assim, ponto a ponto, vai ser firmando a existência de um diálogo positivo entre moda e inclusão social.

27 de março de 2008

Maquilhagem: uma arte das telas, passarelas e ruas.

Mónica Féria Theotónio da Costa Serrão
Estudante da Universidade Técnica de Lisboa em intecâmbio na UFC
monicacserrao@hotmail.com

No mundo do cinema, tal como no dia a dia (do quotidiano) da nossa sociedade, a maquilhagem tem um papel extremamente importante. Com ela, podemos esconder, acentuar, deformar, colorir, o corpo humano e em especial o rosto.
A função da maquilhagem ao longo da história do cinema tem sido ajudar o actor a criar a sua personagem, juntamente com as roupas, os acessórios, cabelos, etc.
Na sociedade ocidental actual, a maioria das mulheres não dispensa o seu ritual matinal de maquilhagem, dando uso às capacidades milagrosas dos produtos existentes no mercado. Com um simples toque de um pincel podemos modificar a nossa aparência, e isso permite-nos encarar várias personagens de acordo com a pincelada que escolher.
O povo egípcio foi o primeiro a documentar a importância do uso da maquilhagem e dos cosméticos como uma parte importante da sua cultura. Os faraós maquilhavam os olhos destacando-os para não olhar directamente para o Rá, Deus do Sol. Quem não se lembra da Cleópatra, mulher poderosa e carismática, referência de sensualidade e de beleza, retratada de pele clara e com um risco preto (pó de khol) sobre os olhos para os realçar.
Também para os romanos, greco-romanos, persas, passando pela idade média até no Renascimento, a pele clara, pálida mesmo, era sinal de saúde e de estatuto social, uma condição da beleza pura e nobre. Para isso as mulheres utilizavam mascaras nocturnas de farinha de favas, miolo de pão, leite, bocados de vitela, alvaide, etc. Utilizavam e inventavam 1001 receitas para clarear o corpo. Porém tinham a ajuda da maquilhagem, quer para clarear o rosto, como para rosar as maças do rosto. Há quem diga que Popéia (ideal de palidez para as romanas) maquilhava as veias do peito e da testa de azul para realçar ainda mais essa palidez.
No séc. XIX surge o primeiro estilista, Charles Frederick Worht, e com ele nasce a Alta Costura. Em 1885 é fundada a Câmera Sindical da Alta Costura Parisiense e com ela estilistas como Paul Poiret, Madeleine Vionnet, Coco Chanel, Christian Dior, Balenciaga, Givenchy, etc. mudaram a história da moda, criando a necessidade de mudança também no mundo da maquilhagem.
Porém, foi somente no séc. XX, graças aos avanços químicos, ao crescimento da televisão e do cinema que se iniciou a industria dos cosméticos como nos a conhecemos hoje em dia.
Em 1904 Max Factor emigra para a América em busca de uma vida melhor, e em Los Angeles abre a primeira loja de maquilhagem para teatro, não demorou muito para se tornar o primeiro maquilhador de Hollywood. Por volta dessa mesma altura o cinema mudo explora a nova tendência de maquilhagem publicada na Vogue o “exotismo”, compondo várias mulheres sensuais com grandes riscos pretos á volta dos olhos para os tornar maiores.
Por volta dos anos 30, a maquilhagem estava disponível para as mulheres de todas as classes sociais, que, através de seu uso, tentavam se assemelhar aos seus ícones. Actrizes como Greta Garbo e Marlene Dietrich eram o padrão de beleza e de feminilidade, e Marylin Monroe com os seus rostos claros e lábios vermelhos também o foi.
A partir dos anos 70 as pessoas começaram a utilizar a maquilhagem e os cabelos para se diferenciarem, como meio de expressão do seu estilo de vida e não seguindo a moda..
Cada vez que um grande costureiro lançava uma nova colecção de cores e formas para as roupas, lá vinha um tom de sombra específico para os olhos, uma nova cor de boca, ou um novo verniz, criando uma variedade enorme de escolhas. Os códigos de beleza começaram a mudar de acordo com as estações do ano.
Á beira do novo milénio, novidades como cosméticos pigmentados e novas fórmulas como protecçao solar, umectação e controle do envelhecimento da pele, vieram encrementar a importância da maquilhagem.
Nas décadas seguintes surge a pluralidade de estilos e a globalização. Surgem também as top models capas de revistas e ícones de beleza, porem é uma beleza difícil de alcançar, então as escolhidas para retractar as imagens das marcas foram as actrizes, caracterizadas como “mulheres comuns” que passaram a ser os grandes ícones e os exemplos para as mulheres da actualidade.
No cinema a maquilhagem é tão importante que desde 1981 é atribuído um Óscar nesta categoria, depois de muita luta por parte dos maquilhadores. Há quem diga que um boa maquilhagem ajuda a actriz a ganhar um Óscar pela sua representação.
Quer seja para embelezamento, correcção de imperfeições, para caracterizar o actor de outra pessoa como envelhece-la ou transformá-la num monstro, ou para uma caracterização de efeitos especiais, etc., ela é necessária para a interiozação do actor na sua personagem, que tem que exprimir na sua representação o maior realismo possível.
A maquilhagem facilita a expressão do actor dando-lhe mais confiança e ajuda o público a acreditar naquilo que realmente está na tela, permitindo também um maior envolvimento deste no filme. Também o ser humano quer ser credível e confiante, e porque não apoiar-se na maquilhagem para isso? Tal como os estilistas se apoiam dela para retractar nas modelos as suas colecções, e dar mais ênfase aos seus desfiles.
Não há dúvida que a maquilhagem é um elemento cultural, que tem, e terá sempre, um papel muito importante no cinema, nas passereles e nas ruas da nossa civilização.

Bibliografia:
- SANTORO, Fernanda. Uma passagem pela Maquiagem no decorrer do séc. XX e suas tendências de comportamento. Disponível em:
http://www.coloquiomoda.com.br/coloquio2007/anais_aprovados/uma_passagem_pela_maquiagem.pdf

Sites consultados:
-
http://pt.wikipedia.org/wiki/Maquilhagem
- http://samaralinhares.uniblog.com.br/252767/historia-da-maquiagem.html

O Dragão de Moda e de Artes Plásticas

Letícia Bernardo Carvalho.
Graduanda do curso de Estilismo e Moda da Universidade Federal do Ceará.
leticiabcarvalho@gmail.com

Dragão de todas as artes reúne cinema, moda, artesanato e artes plásticas. Todas elas têm seu significativo valor para a sociedade como formas belas de expressão do sentimento humano. Porém, a moda e as artes plásticas são indescritíveis nesse aspecto. E elas não devem ficar de fora desse Dragão de todas as artes.
Não se pode fazer arte sem sentimento. Por isso, as artes plásticas e a moda são intensas representações do sentimento humano. Não é somente esculpir ou copiar um modelo conforme as tendências das respectivas artes.
Um exemplo grandioso da demonstração do sentimento na moda brasileira é Zuzu Angel, que primeiramente fazia roupas para as primeiras-damas de militares, na época da ditadura, e chegou a fazer desfiles na Semana de Moda de Nova Iorque ressaltando como o Brasil estava bem. Até seu filho ser vítima das cruéis torturas. O memorável desfile que faz na Semana de Moda de Nova Iorque foi uma das primeiras formas de fazer o mundo tomar conhecimento da violência terrível que estava acontecendo no Brasil.
Nas artes plásticas, muitas pessoas denunciaram, aclamaram, se venderam, enfim, sentiram o que estavam passando com a época e com elas mesmas. Não se pode esquecer da dor e da perplexidade de Pablo Picasso quando fez Guernica, representando sua cidade natal devastada pela guerra civil espanhola. No seu testamento, declara que o quadro pertencia ao povo espanhol e que só retornaria à Espanha depois que o fascismo fosse derrotado. E demorou quase meio século para isso acontecer.
Por isso, no Dragão de todas as artes, não se deve dissociar moda e artes plásticas, pois seria um evento incompleto. É preciso impactar com formas e cores, com modelos e atitudes as perplexidades de uma sociedade anestesiada pelo consumismo conformista.

BIBLIOGRAFIA:
*SCHIMIDT, Mario. Nova História Crítica. São Paulo: Editora Nova Geração, 2005.